quarta-feira, 30 de agosto de 2017

Rupaul's Drag Race Brasil: considerações, expectativas e adaptações




Uma notícia recente, divulgada no dia 16 de agosto, surpreendeu a comunidade LGBTQ+ e os simpatizantes da diversidade cultural. É que o Rupaul's Drag Race ganhará uma versão brasileira em 2018, pela Endemol Shine Brasil e a Passion Distribuition, ainda sem canal e data definidos




"Can i get an amen up in here?"


Para quem não sabe esse é um reality show norte americano liderado por uma das drags queen mais famosas de todo o mundo, a RuPaul Charles, de 56 anos. Rupaul's Drag Race é um programa líder de audiência e sucesso, que já teve 11 edições, sendo nove com drags, e outras duas com as vencedoras (Rupaul's Drag Race: All Stars). Um programa marcante, como se fosse uma "copa do mundo de drags".

Rupaul's Drag Race é mais que um mero entretenimento ou ascensão de drags queen, mas uma tentativa de tornar em evidência essa classe de indivíduos, fazendo-os participar da sociedade como um todo. Desse modo, o programa é um manifesto político e social, como explicou uma reportagem da Folha Ilustrada

É interessante e interativo a competição dessas personagens e a torcida para que uma delas vença no final. Há entretenimento de sobra quando elas mostram seus talentos, no meio de plumas e paetês, seja ao cantar, dançar, costurar, maquiar, atuar, improvisar e produzir humor. Realmente elas lacram, de acordo com o próprio dicionário da comunidade. Mas creio que esse não seja o objetivo do programa.





Com certeza quando o programa estreou em 2009 foi preciso quebrar muitos paradigmas, estereótipos e ultrapassar discursos de preconceitos. Ainda hoje, em 2017, o reality luta contra isso. E tem conseguido, em minha opinião, porque a Rupaul ganhou visibilidade e sucesso, tornando-se uma das drags queen mais conhecidas do mundo.

Quando li que a versão brasileira seria realizada fiquei surpreso, mas com uma série de questionamentos. É preciso que a Rupaul Charles apresente a versão tupiniquim em sua totalidade, como veiculado pelo site RD1? Falamos de versões diferentes e de uma nova adaptação. Em minha opinião, a Rupaul deveria fazer algumas participações, mas não ser a apresentadora, até porque tem-se falado que caso ela seja âncora, será utilizado o recurso de dublagem, como no Cake Boss, da Record. E com toda sinceridade: esse recurso ficou uma bosta no programa, não ornou e o tornou bastante artificial. 

Os produtores devem tirar do pensamento essa história de "programa enlatado não pode ser modificado nem adaptado". Adaptações e modificações precisam ser experimentadas, de acordo com o local onde ele será exibido. A comunidade brasileira de drags queen é imensa, riquíssima, cheia de talento e com suas peculiaridades. É interessante que a versão brasileira do programa explore isso tanto no quesito de apresentação, jurados e participantes. Não há nenhum demérito em chamar uma drag famosa brasileira para apresentar a versão, nem muito menos ofuscaria a imagem já consagrada da Rupaul. Existiria um demérito, sim, se a Rupaul apresentasse e tivesse uma co-apresentadora brasileira, como também cogita-se. Não existiria vez nem brilho pra nenhuma drag se estivesse ao lado da rainha e criadora da atração. (Preciso deixar claro que não sou contra a participação da Rupaul, mas sim que ela apresente o programa no lugar de uma drag local).

Quando falo que a comunidade brasileira de drags queen é rica, é porque de fato ela é e isso precisa ser explorado na versão tupiniquim. A Pabllo Vittar, Gloria Groove e Aretuza Love são conhecidíssimas por nós e demonstram seus talentos através da música, performances, criatividade e tiros gratuitos de empoderamento, sem imitar ninguém e o mais importante: sem serem americanizadas. O Buzfeed, por exemplo, selecionou as 12 drags brasileiras mais influentes e que deveriam participar da versão.  
















Contudo, a versão brasileira não deve ter a participação somente dessas drags queen conhecidas do público, em minha opinião. Se assim for, os produtores limitarão a visão e a possibilidade de diversidade de drags e estilos. Já que trata-se de uma versão brasileira, presumo que a sondagem das participantes seja minuciosa e universal e que sejam selecionadas drags não tão famosas, mas igualmente talentosas, como a Pabllo Vittar, por exemplo. Em minha opinião, seria interessante que essas drags queen famosas fossem juradas e não participantes, afinal, muitas delas já galgaram seu lugar ao sol. 

À título de exemplo, cito a Pabllo Vittar, que possui várias músicas e videoclipes estourados e uma visibilidade incrível. Só para terem ideia, a maranhense já ultrapassou o número de seguidores da própria Rupaul, que é considerada a drag queen mais famosa do mundo! Enquanto a criadora do reality possui 1,5 milhões, a Pabllo já possui 3,5 milhões de seguidores no Instagram. Trouxe esses dados não pra equiparar e comparar as divas, mas pra mostrar o poder de influência da Pabllo Vittar, assim como o da Rupaul






















Poder de influência tão marcante, que rendeu à Pabllo um clipe com a Anitta e, recentemente, com Petra Gil; tretas judiciais por conta da autoria de Todo dia, que a tirou do Youtube; ataque hacker à sua conta e exclusão do clipe K.O. (essa é bem fresquinha!); menção positiva de Adore Delano, participante da versão americana do programa; e dublagem honrosa de drags do Rupaul de K.O.







Pabllo Vittar simplesmente causa! Contra fatos não há argumentos. A participação dela no Rupaul's Drag Race Brasil é mais que necessária. Todavia é preciso cuidado para que Pabllo não ofusque a presença de outras drags no programa, nem que seja a mais importante. Por isso acredito que ela como apresentadora ou jurada seja o caminho mais sensato a ser seguido.

Sem contar que também espero que os jurados fixos e os convidados sejam tão geniais, divertidos e interessantes quanto os originais. Por mais que seja uma adaptação para o Brasil, a diversão e essência do programa original devem ser mantidas em todas as versões - e isso não vale só para esse programa específico, e sim para as adaptações de outras atrações.






Na versão norte americana, há uma parte na qual as participantes do programa assistem uma pequena mensagem em vídeo enviada pela Mama Ru, dando dicas sobre o que será o tema dos desafios daquele episódio. Acredito que seria essencial que isso fosse mantido, desde o vídeo até a participação da Ru. Mas, para que não ficasse algo muito "by google translated", a mensagem poderia ser legendada ao invés de dublada como nos demais programas internacionais que passam na TV. Geralmente essas dublagens ficam muito ruins, então a legenda talvez seja a melhor opção.

Também espero que as provas mantenham o mesmo nível do original. Imagina um Snatch Game com celebridades brasileiras, o quão engraçado e genial ao mesmo tempo esse desafio poderia ser? Temos tantos artistas brasileiros que seria muito legal ver uma versão sem pudor de alguns deles sendo performados por algumas drags.






Ainda há acordos que dizem respeito em qual canal a atração será veiculada (bem como quantidade de temporadas e episódios). A Band e o Multishow manifestaram o desejo de exibi-la. De um lado, uma emissora aberta, aficionada por realitys e atrações inovadoras; e do outro um canal fechado, de entretenimento e criatividade. Em qualquer um dos canais o Rupaul's Drag Race Brasil funcionaria, mas seria interessante que a Band o veiculasse e vou explicar o porquê. 

Trata-se de um canal aberto, de larga abrangência e ampla repercussão. Além disso, um programa veiculado em TV aberta surtiria mais efeitos e atingiria maior parte da população brasileira. E assuntos de diversidade, da comunidade LGBTQ+ e de representatividade drag queen seriam discutidos com uma certa abrangência na TV gratuita. Mas seria interessante que a Band não maquiasse esse universo, não censurasse algo ou calasse/omitisse as vozes dessas divas. Chega de recato, bons costumes, politicamente correto e censura!





Essas são as minhas expectativas da versão brasileira desse importante reality. Espero que tenham entendido o meu ponto de vista e compreendido que, por se tratar de um programa brasileiro, ele deva ter elementos nacionais, drag queen locais e representatividade brasileira da comunidade LGBTQ+. J-J


"Now, Sashay away."



Por: Emerson Garcia
Colaboração: Thiago Nascimento

5 comentários :

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